Com 15 panes nos primeiros meses do ano, problemas da CPTM atrasam o trabalhador e podem gerar demissões
Se fizesse uma música que citasse os trens hoje, dificilmente Adoniran
Barbosa poderia cravar um horário, como fez em “Trem das Onze”.
Atualmente, poderia ser das onze e quinze, onze e meia... Dependeria das
panes e atrasos – já foram 15 ocorrências graves em 2012, contra 42 no
ano passado. Com os registros recorrentes, os trabalhadores acabam se
atrasando e, consequentemente, se prejudicando nas empresas.
Segundo Rogério Giannini, secretário de relações de trabalho da CUT-SP
(Central Única dos Trabalhadores), os trabalhadores foram “empurrados”
para a periferia e os investimentos no transporte não acompanharam esse
deslocamento. “O empresário pensa: ‘De novo essa desculpa do atraso do
trem’. Mas realmente tivemos vários episódios recentes e esses atrasos
acumulados contam negativamente em um futuro corte. O trabalhador não
tem culpa e é punido por morar longe.”
Desempregado, Cleiton de Sousa Silva, de 22 anos, está sentindo na pele
os prejuízos da ausência de uma melhor estrutura nos trens e afirma que
já perdeu oportunidades por morar em Carapicuíba, na região Oeste da
Grande São Paulo, e depender do transporte público.
“Passei em todas as fases, mas, quando foram me contratar, perguntaram
onde eu morava e disseram que iriam dar preferência para candidatos que
residiam em locais mais próximos. Eles não confiam, pensam que vou me
atrasar e prejudicar a empresa. Acho que se o transporte público tivesse
mais qualidade eu conseguiria uma vaga mais facilmente”, afirma.
O peso dos atrasos nos trens também incide no despertador dos
trabalhadores. “Quando pergunto para minha funcionária quanto tempo ela
demora para chegar, ela diz que leva de uma hora e dez a duas horas e
meia. É um intervalo muito amplo. Por precaução, o trabalhador tem de
acordar mais cedo e sair de casa com muita antecedência”, diz
secretário da CUT.
EMPRESAS/ José Roberto Machado, gerente comercial do Grupo Gente, afirma
que o problema não pode ser generalizado. “A preferência por um
trabalhador que resida em local próximo só acontece quando há mais de um
candidato e os custos com transporte são maiores no caso de um deles.”
Para Willians Ferreira, coordenador do CST (Centro de Solidariedade ao
Trabalhador), a questão também está vinculada à vaga. “Dependendo da
qualificação exigida, não é um empecilho e acaba pesando mais a
necessidade da mão de obra qualificada”. Para ele, quando as exigências
da vaga são menores, a proximidade e a facilidade de acesso contam mais.
“A sociedade, inclusive governos e empresários, tem de se ‘vacinar’
contra esse tipo de comportamento de punir o trabalhador por conta de
problemas no transporte. O que é preciso é pensar estratégias para dar
melhores condições de ele se locomover”, conclui Rogério
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