No total, sete bairros terão desapropriações: Freguesia do Ó, Lapa, Barra Funda, Perdizes, Consolação, Bela Vista e Liberdade. Os 406 imóveis somam 407.400 m²: 52 são terrenos vagos, 214 residenciais e 140 comerciais. A assessoria de imprensa do Metrô informou não possuir a lista dos imóveis que serão desapropriados até o fim da manhã desta terça-feira.
A indicação de onde serão construídas as futuras estações consta no site do Metrô. A maior parte das pessoas não sabia das desapropriações – nenhum proprietário contou ter sido notificado. E mesmo quem já sabia que poderia ter uma estação próxima ficou assustado com a possibilidade de ter que mudar de endereço.
Foi
o caso do empresário Flávio Monacci Júnior, de 51 anos. Dono de uma
hamburgueria na Rua João Ramalho, em Perdizes, no quarteirão onde ficará
a estação com o nome do bairro, ele imaginava que a via não seria
afetada – entretanto, ela está na lista do Metrô. “Eu estava confiante
que não iria pegar aqui. Estou pintando a loja, se tiver que sair vou
perder dinheiro. Ninguém foi notificado ainda, eles tinham que comunicar antes, mas não falam nada, é um absurdo!”, afirmou.
O
empresário também lembrou que, apesar de o dono do imóvel ser
indenizado, o inquilino não recebe nada. “O dono é desapropriado, e quem
aluga não leva nada, fica no prejuízo. Estou aqui há 28 anos, cuido bem
do prédio. Se sair daqui, não acho outro lugar igual”, afirmou. Dono de
um escritório na mesma rua, o contador Marcelo Ramos também se assustou
com a notícia. “Já vou começar a procurar outro lugar. Se tiver que sair mesmo, vai ficar tudo caro aqui por perto.”
Prédios
No
quarteirão onde ficará a Estação Perdizes, há lojas, posto de gasolina,
restaurantes, pequenos comércios e também dois prédios – um deles de 20
andares. O Metrô não informou se os prédios estão na lista de imóveis
que precisarão ser desocupados, e também não explicou como seria feita
uma eventual demolição.
A
mesma dúvida ocorre entre os moradores da área onde ficará a futura
Estação Higienópolis/Mackenzie, que segundo o Metrô será construída no
quarteirão entre as ruas da Consolação, Pedro Tasques, Bela Cintra e
Dona Antônia de Queiroz. O mapa aponta a estação bem no centro do
quarteirão - único ponto onde não há prédios na área. Entretanto, as
ruas da Consolação, Bela Cintra e Dona Antônia de Queiroz estão na lista
de desapropriações – há muitos prédios na região, e quem mora por ali
fica em dúvida.
“Não
achei que ia desapropriar mais, achei que ia ser junto com a outra
estação [na Linha 4, onde está prevista uma integração]. Não sei como
vão fazer com os prédios, acho difícil tirarem. Vão demolir tudo? Quero
ver a confusão que vai ser, ninguém vai querer sair, aqui é ótimo para
morar, e o que eles vão pagar não vai dar para comprar outro imóvel”,
disse a aposentada Carmem Almeida.
Também
na região central, a futura Estação 14 Bis deve ser uma das que menos
afetará outros imóveis. Pelo mapa do Metrô, a estação ficará sob o
Viaduto Doutor Plínio de Queiroz, com acesso para a Rua Paim. Nesta rua,
no trecho que a princípio será afetado, fica um galpão onde funciona um
bar durante a noite, além de um estacionamento anexo. Ninguém foi
encontrado para comentar o assunto no local.
Escola de samba
Na
mesma região, a Rua São Vicente, onde fica a quadra da escola de samba
Vai-Vai, também está na lista das que terão desocupações. Segundo Renato
Maluf, vice-presidente da escola, a agremiação ainda não foi notificada
oficialmente sobre qualquer desapropriação, mas já busca, desde 2010,
por um novo terreno para instalar sua quadra.
“É
de nosso conhecimento que existe a possibilidade de desapropriação.
Estamos junto à Prefeitura procurando alguma área dentro da região da
Bela Vista para ser repassada para a Vai-Vai, para virar arena multiuso,
com uso da Prefeitura de São Paulo, um espaço cultural”, afirmou. “Se
não der certo, por meios próprios a escola vai ter que se virar, a
Vai-Vai não vai ficar sem espaço. Independentemente do Metrô, é uma meta
solucionar o problema da quadra, que não é grande.”
O
vice-presidente da agremiação também informou que, mesmo que a quadra
não for desapropriada, o canteiro de obras da estação irá dificultar sua
utilização para os ensaios, que também ocupam a rua.
Descrença
Na
Freguesia do Ó, Zona Norte de São Paulo, os moradores e comerciantes do
entorno da futura estação da Linha 6-Laranja com o nome do bairro ainda
não acreditam que o Metrô realmente será construído, e viram com
descrença a possível desapropriação. “Não chegou nenhuma notificação,
ninguém sabia de nada. Sei lá se vai ter linha mesmo, só dizem que vai
passar aqui. O pessoal não confia mais”, afirmou Eduardo Pereira,
funcionário de uma loja de autopeças.
A
região tem poucas casas – a maior parte dos imóveis são comércios ou
galpões. “O local onde ficará a estação sempre foi especulação.
Oficialmente ninguém falou nada, e acho que ainda vai demorar muito. Não
vejo esse Metrô na Freguesia tão cedo”, disse o contabilista Roberto
Vazquez, de 50 anos, dono de um imóvel no quarteirão. “E não tem jeito, a
gente tem que sair. O pior é que eles pagam pouco, tem que ir depois
atrás na Justiça.”
A
Linha 6-Laranja terá extensão de 13,5 km e 15 estações - Brasilândia,
Vila Cardoso, Itaberaba-Hospital Vila Penteado, João Paulo I, Freguesia
do Ó, Santa Marina, Água Branca, Pompéia, Perdizes, Cardoso de Almeida,
Angélica-Pacaembu, Higienópolis-Mackenzie, 14 Bis, Bela Vista e São
Joaquim -, além de um pátio de estacionamento e manutenção de trens,
intitulado Pátio Morro Grande.
Desapropriação
De
acordo com o Metrô, as ações de desapropriação devem ocorrer no segundo
semestre deste ano. A oferta de valor dos imóveis será feita com base
no Imposto de Transmissão de Bens entre Vivos (ITBI) municipal, que é
calculado com base no valor venal do imóvel. O juiz responsável irá
nomear um perito para vistoriar os imóveis e fixar um valor provisório.
Esse valor deverá ser depositado pelo Metrô em juízo.
A
partir de então, os proprietários terão que cumprir exigências legais,
como comprovação de propriedade e comprovação de não ser devedor de
tributos vinculados ao imóvel.
A
desocupação do imóvel deverá ser agendada com o Metrô. Caso contrário,
poderá ser cumprida com a presença de um oficial de justiça. A companhia
será responsável pela mudança dos moradores.
Fonte: G1
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