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Mafersa 1722, pátio da Lapa (São Paulo) |
Fotos: Acervo Pessoal
Caros leitores, bom dia para todos! Eis aqui mais uma matéria sobre a
história das frotas de São Paulo. Hoje, falaremos do lendário Mafersa
1700, um dos melhores trens da CPTM, avaliado por usuários, funcionários
e admiradores. Vamos voltar alguns anos no tempo para contar a história
desse magnífico trem.
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Composições sendo construídas na Mafersa, em São Paulo |
Por volta do ano de 1986, a CBTU (Companhia Brasileira de Trens
Urbanos), subsidiária da RFFSA, encomendou à Mafersa, um lote de 55
trens de oito carros, em aço inox, para atendimento das demandas no Rio
de Janeiro e em São Paulo. No documento oficial, consta que o Rio de
Janeiro receberia 30 unidades, enquanto São Paulo ficaria com as outras
25 unidades. Em 1987, a Mafersa entregava os primeiros trens para
operação, a princípio, em São Paulo. Os trens, numerados como série 700,
foram muito bem recebidos, pois eram trens robustos, potentes e de
fácil condução.
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Composições no pátio da Lapa, em SP |
Num plano emergencial, a CBTU enviou dez unidades da série 900
(Cobrasma/Francorail) do Rio de Janeiro, para auxiliar no transporte de
usuários da linha Paranapiacaba x Jundiaí, enquanto a encomenda de São
Paulo não ficava pronta. Nesse meio tempo, os 900 fizeram principalmente
o trecho entre Mauá e Pirituba, num serviço que ficou conhecido como
''expressinho''. Após a entrega dos 25 trens em São Paulo, a CBTU enviou
novamente a série 900 para o Rio de Janeiro. Com a entrada em serviço
de todos os trens, um novo método de transporte foi adotado pela CBTU,
pois o trecho de operação desses trens contava então, com trens das
séries 101, 401 e 431, todos de seis carros. Nos horários de pico,
principalmente, os trens da nova frota auxiliavam de maneira essencial
(fato que se repete até os dias de hoje).
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Milésimo carro construído pela Mafersa (atualmente, carro 717 da Supervia) |
A frota 700 nunca fui muito problemática, pois não contava com nenhuma
tecnologia de grande porta embarcada. Logo, conquistaram espaço e
respeito nas ferrovias paulista e carioca. No caso de São Paulo, devido à
motorização 50% (dos oito carros da composição, quatro possuem
motores), vence fácil as rampas da Linha 7-Rubi, a partir da Vila
Clarice. Na Linha 10-Turquesa, poderia desempenhar um papel fundamental,
devido sua força de arrancada e desenvolvimento de velocidade. Com
assentos longitudinais (todos laterais), foi um trem construído para
andar carregado, pois oferece um grande espaço interno.
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Unidade chegando em Barra Funda (ao fundo, um 5000 da então Fepasa) |
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ER700 no Rio de Janeiro |
Sua fase em São Paulo, sob administração CBTU não durou muito: entre
1987 e 1992, quando a CPTM assumiu os serviços de transporte
ferroviário. Ainda em 1992, todos os 25 trens estavam em circulação, em
perfeito estado de conservação. Convenhamos que foram poucos anos de
uso, mas foi um uso completo, pois a necessidade de transporte em São
Paulo parece não acabar nunca. Em 1992, com a entrada da CPTM, os trens
perderam o logotipo da CBTU, ganhando as tradicionais faixas em azul e
vermelho da nova companhia.
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Unidade 700, agora como série 1700, sob administração CPTM |
Em 1995, a primeira incidência dessa frota: um trem rodou desgovernado
entre Vila Clarice e Piqueri, por falha nos freios. Um detalhe que, após
pesquisas descobrimos, é que essa frota continha freios muito ruins, ou
seja, não havia confiabilidade. Era comum os maquinistas terem certa
dificuldade para conseguir frear esses trens. O que já parecia ser um
aviso para os anos seguintes. Em 2000, ocorreu o pior acidente da
administração CPTM em São Paulo: um trem série 1700 saiu desgovernado da
estação Jaraguá e atingiu em cheio um trem da série 1100 na estação
Perus. O acidente causou a morte de nove usuários, além de diversos
feridos. A composição (de prefixo 1740), colidiou com a composição 1103,
causando o sucateamento de ambas, devido ao impacto causado na colisão.
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Composição 1740, completamente destruída após colisão em Perus |
A partir de 1999, a CPTM assinou contrato para reforma e modernização
dos trens da série 1700, que após tantos anos em circulação, receberam
seus devidos cuidados. Dividido em vários lotes, algumas empresas
fizeram toda a reforma dos trens, alterando inclusive os freios, com
equipamentos mais modernos e seguros. Além disso, os trens ganharam a
nova identificação visual dos transportes metropolitanos de São Paulo,
com a cor azul predominante. De todos os trens disponíveis, apenas
quatro unidades (de quatro carros) ainda permanecem no padrão prata da
CPTM: 1707-1708, 1719-1720, 1723-1724 e 1741-1742. Dessas unidades,
apenas a última ainda está em operação. As demais encontram-se fora de
serviço, sucateadas ou como depósito de peças.
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Unidade 1721-1722, na estação Brás (2001) |
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Duas fases de identificação visual da CPTM |
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Unidade 1722 na estação Luz |
Como citado acima, os trens possuem assentos longitudinais, ou seja,
todos são laterais, o que oferece maior espaço interno para os carros,
porém, com menos usuários sentados. Com ventilação forçada, mas com
janelas maiores do que os trens anteriores, o ar é bem distribuído
dentro dessa frota. Conheça um pouco mais do trem, com imagens internas:
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Salão de passageiros, unidade 1747 |
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Cabine de comando |
Recentemente, a CPTM perdeu mais uma composição, por conta de uma
colisão. A unidade 1745-1746 foi atingida por uma locomotiva na estação
Vila Clarice e segundo informações, foi perda da composição.
Curiosamente, essa unidade estampou o site da CPTM como o primeiro trem
dessa série a ser reformado e modernizado:
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Unidade 1746, recém-chegado de sua reforma |
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Unidade 1745 (outra face), atingida por locomotiva Alco RS3 |
Com a perda dessa unidade, restam agora 10 trens (de oito carros, ou 20
de quatro carros), uma vez que passam a ser dois trens de oito carros
desativados. Ainda segundo informações da operação, a unidade 1742
atingiu sua quilometragem máxima e pode ser a próxima a deixar de
circular. Lembrando que a unidade 1742 ficou fora de serviço de 2006 a
2009, retornando em outubro de 2009 para operação. Fala-se muito de uma
nova modernização nessa frota, para ganhar ar-condicionado e uma
completa revitalização interna. Mas ainda são boatos, que não temos
certeza se irão acontecer.
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1742 no Abrigo Lapa |
ER700 - SuperVia - Rio de Janeiro
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ER711 na estação Central do Brasil (RJ) - Foto de Bruno Rodrigues (Viajante FLA) |
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ER716 |
No Rio de Janeiro, a frota ER700 circula com diversas faces. A Supervia,
concessionária do transporte ferroviário local, possui algumas unidades
ainda em certo estado de conservação. Alguns trens dessa série já
contam com ar-condicionado, uma ideia que ainda está sendo analisada em
São Paulo.
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ER716, com ar-condicionado, na estação Oswaldo Cruz |
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ER713 na estação Paracambi |
Uma estratégia de marketing da Supervia é adesivar trens inteiros com
propagandas, com o intuito de arrecadar renda. Empresas interessadas
apresentam o layout e, mediante aprovação, cobrem os trens, que ficam
com as publicidades por determinada época. Alguns exemplos podem ser
vistos abaixo:
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O lendário 700 Coca-Cola, com ar-condicionado |
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700 com propaganda do Jornal Meia hora |
Fora isso, a concessionária deu início a um programa de modernização
completa desses trens, alterando inclusive sua máscara. Mas não foi um
trabalho dos melhores, pois, segundo informações locais, o consórcio
responsável pela reforma implementou uma máscara de fibra por cima da
máscara original de aço inox. Torcemos para que a CPTM não tenha uma
ideia dessas, pois simplesmente detonaram o trem. Se for para
modernizar, que mantenha a máscara original, pois é um trem de história
digna.
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ER2005 (Trem coreano) e ER700 em Deodoro: ideia da Supervia é deixar os 700 no mesmo padrão... |
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... mas a ideia não é das melhores (ER724, modernizado pela TTrans) |
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Interior do ER724: Janelas literalmente soldadas e lacradas |
Vale lembrar que o 700 foi o último grande projeto liderado pela
Mafersa, antes de seu declínio rumo à falência. O melhor projeto
nacional de uma composição em aço inox, resistente, potente e robusto.
Somente a Mafersa, o orgulho da indústria ferrovíaria nacional, poderia
fazer um projeto tão aclamado como esse. Fica a nossa homenagem, para
quem desenhou, projetou e construiu essa obra-prima da ferrovia.
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