Bom dia, caros leitores! Mais um dia, mais uma história... Gostaria de
agradecer à todos vocês que passam aqui aos domingos, para acompahar as
histórias das frotas metropolitanas. Essa série tem sido um verdadeiro
sucesso, alcançando altos índices de visitas. Hoje, falaremos de uma
frota que já não circula mais nos trilhos paulistas: a frota Toshiba
série 4800. Esses trenzinhos japoneses rodaram por mais de 50 anos,
prestando serviços essenciais na zona oeste de São Paulo. Seus últimos
anos foram de total decadência, com acidentes, incidentes e mistérios
que até hoje poucos sabem desvendar. Em 2010, justamente no dia do
ferroviário, essa frota deixou de circular, deixando saudades aos
ferroviários e aos usuários, que guardam memórias, histórias e momentos à
bordo dos simpáticos trens japoneses.
Em meados dos anos 1950, a então administradora das atuais linhas
8-Diamante e 9-Esmeralda, a Estrada de Ferro Sorocabana, oferecia um
serviço de transporte de passageiros com locomotivas à vapor e carros de
madeira. A necessidade de melhorar o transporte, agilizando e
modernizando o serviço, tornou necessária a compra de trens elétricos,
um novo marco da época. Então, a EFS entrou em contato com a Tokyo
Shibaura Co. (Toshiba), no Japão. O resultado do contato: uma encomenda
de trens elétricos de bitola métrica, em aço carbono, para circularem no
trecho principal (que partia de Júlio Prestes, seguindo até Sorocaba).
Os primeiros novos trens chegaram no navio Kantu Maru, no porto de
Santos, em 1957, como mostra o histórico vídeo agregado abaixo. É
possível também observar o lendário trem 'Ouro Branco', composição de
luxo da Estrada de Ferro Sorocabana:
Com a chegada dos trens japoneses, a EFS ganhou novo fôlego no
transporte de passageiros. O serviço, na época, contava com um número
bom de usuários, que se deslocavam principalmente da região de Osasco
para São Paulo. As novas composições contavam com apenas seis portas em
cada carro, de folha única; assentos estofados e um bom nível de
conforto. Eram destacadas pela cor verde predominante, com duas faixas
horizontais na cor branca, identidade determinante da EFS.
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Toshiba em Júlio Prestes |
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Toshiba, com destino à Carapicuíba |
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Toshiba entre Barra Funda e Lapa |
O tempo foi passando e curiosamente, os trens japoneses foram ficando
para trás. A demanda, como sempre, não parava de crescer, deixando o
serviço completamente obsoleto. Os simpáticos trenzinhos já não davam
conta dos passageiros, cada vez mais sedentos por transporte rápido,
seguro e de qualidade. Nesse tempo, já estávamos na lendária Fepasa. Em
1971, a memorável empresa assumia o controle da EFS, dando um maior
ênfase no serviço. Sete anos depois, já recebia um enorme lote de trens,
com o intuito de substituir os trens japoneses. Com a chegada dos trens
franceses da série 5000 (que por ventura, são tema no próximo domingo),
os trens japoneses passaram a atuar mais nas extensões operacionais.
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Toshiba 5800, em uma de suas fases |
Em 1971, a Estrada de Ferro Sorocabana, então controlada
diretamente pelo governo de São Paulo, era absorvida pela FEPASA, que daria
novo fôlego para a companhia. Logo na aquisição, começam os projetos para
melhorias nos trens de subúrbio, e nesses projetos, a encomenda de novos trens
para atender o trecho então operado pelos toshibas. Em 1978, chegam os novos
trens franceses, com 12 carros, bitola de 1,60m e maior capacidade. Com isso,
os toshibas são deslocados para realizarem viagens do interior para cidades
próximas à São Paulo. Durante esse tempo, o trem ficou conhecido como Toshiba
Rio Claro, por seguir viagens até a cidade citada. Em 1995, a FEPASA é
absorvida pela CPTM, e os trens japoneses ganham um destino mais singelo:
extensão operacional. Com isso, os serviços de transporte para Sorocaba são
extinguidos, e a CPTM passa a controlar todo o tráfego correspondente.
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Toshiba reformado nas oficinas de Sorocaba |
Operando na extensão da então Linha C, os trens
série 4800 prestavam serviços um tanto pacatos, em estações bastante humildes.
Posteriormente, os mesmos foram deslocados para a extensão da então Linha B,
onde encerraram suas atividades. Nesse meio tempo, das últimas seis unidades
restantes, apenas três ficaram em São Paulo. Outras três foram enviadas para
Salvador (BA), para serviços de transporte da CTS. Nos últimos anos de serviço,
esse trem sofreu inúmeros problemas, todos sem gravidades extremas. Dois casos
mais famosos foi um incêndio no painel elétrico de uma das unidades, durante
uma viagem para Itapevi, e outro foi a perca total dos freios de serviço,
durante a ida para Amador Bueno, deixando a composição desgovernada entre
Itapevi e Santa Rita. Depois desses eventos, a CPTM retirou os trens de
circulação, mas por intermédio da população local e do prefeito de Itapevi, os
mesmos voltaram, após rápida revisão. Em 2009, uma das unidades chegou até
mesmo a receber a nova identificação visual da CPTM, na cor vermelha (unidade
4807), mas assim como os outros dois, não teve um final feliz, e acabou sendo
retirado de circulação também.
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Toshiba na antiga estação Interlagos |
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Toshiba no padrão metropolitano adotado pela CPTM em 1998 |
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Uma das unidades grafitadas, no projeto 'Expresso Arte' |
Hoje, os três últimos trens dessa série encontram-se
estacionados no pátio de Presidente Altino, em Osasco, fora de
circulação.
Desde o fim de sua operação, o serviço de passageiros tem sido atendido
por
ônibus, e a CPTM está modernizando o trecho atendido por eles, trocando a
bitola métrica por larga e reconstruindo as estações. Mas quem viajou
nesses trens, lembra-se de momentos engraçados, principalmente na
arrancada, onde parecia que a composição inteira iria desmontar. Um trem
simples, sem muitos atrativos, mas que deixou saudades para nós que
gostamos de ferrovia.
1 comentários:
Só uma correção: Em meados dos anos 50, a EFS operava com TUE's já, os chamados ''Carmen Miranda''. Para suportes destes, operavam também Locomotivas Diesel e Diesel Elétricas. Locomotivas a Vapor na EFS só da década de 40 para trás, e olhe lá, pois foi a primeira a ser eletrificada em SP. Aliás, a única companhia que nessa época (1957-, pois a atual Linha 9 só foi inaugurada nesta data) operava com Locomotivas a Vapor (Maria Fumaça) era a EFCB (Linha Tronco e Variante), pois mesmo a EFSJ já tinha sido eletrificada, chegavam neste ano os Budds e ela também operava com locomotivas elétricas e elétricas-diesel, as ''english''. A última linha a operar com locomotivas a vapor foi a Variante, em 1962, atual Linha 12 - Safira.
*A atual linha 9 já foi inaugurada eletrificada, e nunca operou com locomotivas a Vapor.
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