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Trem série 4400 - Estação Brás |
Por Diego Silva
Fotos: Acervo Pessoal
Colaboração: Derick Roney (SP), Diego Tozzato (SP), Elder Mendes (RJ), Luis Fernando da Silva (SP)
Bom dia, caros leitores! Estamos aqui, em mais um domingo, para contar
mais uma história dos trens da CPTM. Hoje, falaremos de um trem
resistente, que vem circulando firme e forte pelos trilhos da zona
leste: o trem série 4400. Conhecido por diversos apelidos (sukita,
paulistinha, E.R...), essas composições fazem parte da história dos
trilhos paulistas e cariocas (ainda é possível encontrar exemplares na
Supervia). Vamos iniciar nossa costumeira história de domingo. Espero
que seja do agrado de todos vocês!
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400 em Francisco Sá, Rio de Janeiro (1969) |
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TUE série 400 - Estação Mogi das Cruzes (Foto da década de 1960) |
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Interior de um série 400: assentos longitudinais e janelas curtas (Acervo Pessoal) |
A história dos trens série 4400 remonta um passado já distante.
Adquiridos pela então RFFSA, para utilização nos subúrbios do Rio de
Janeiro e de São Paulo, não se sabe exatamente quantos trens foram
comprados. Sabe-se que sua utilização foi de extrema importância para o
desenvolvimento e do transporte das duas cidades. O maior problema da
época (década de 1960, sendo mais específico), não era falta de demanda,
mas de oferta. O desgaste do material rodante da época se tornou muito
crítico, pois os trens eram usados à exaustão, na tentativa de oferecer
transporte rápido e frequente para os usuários. Nesses idos tempos, os
trens das lendárias séries 100 e 200 (série 200, que hoje é a atual
série 1000 da Supervia). Essa quantidade era insuficiente para dar conta
do enorme aumento de demanda. A situação era tão crítica, que os trens
chegaram a operar com grupos motores parcialmente desligados,
desfalcados de peças essenciais.
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400 em Santa Cruz (Rio de Janeiro, 1975) |
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Duas unidades 400 e uma unidade 200, em São Paulo (Coleção de Thomas Correa) |
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Série 400, estacionado no Rio de Janeiro (autor desconhecido) |
Entre 1964 e 1965, foram recebidos mais de 60 TUE's, dando algum alívio
ao sistema. Essas unidades, conhecidas como série 400 ou 'Wanderley
Cardoso' (cantor famoso dessa época), foram projetadas com base nos
antigos trens séries 100 e 200. Suas caixas, em aço carbono, foram
feitas no Brasil pela Fábrica Nacional de Vagões (FNV), Cobrasma e Santa
Matilde, enquanto que o equipamento elétrico foi fornecido pela General
Electric. Sua potência uni-horária por carro-motor era de 1200 HP.
Esses trens se caracterizavam pelo sacolejo excessivo e ventilação
interna muito eficiente.
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Apelido de 'Sukita' foi dado por conta da pintura laranja (Paracambi, RJ) |
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ER400 original CBTU, na já demolida estação de Eng. Trindade (SP) |
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ER400 'Sukita' na região do Belém, em São Paulo: pingentes e falta de segurança |
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ER400 com máscara original: último sobrevivente na CPTM (Foto de Alex Ibrahim) |
No início da década de 1960, houve uma ação de vandalismo (das muitas
que se sabe) de grandes proporções no Rio de Janeiro. O então
presidente, Jânio Quadros, determinou ao presidente da RFFSA (Rede
Ferroviária Federal Sociedade Anônima) que enviasse para a capital
carioca alguns trens da série 101 (que são os atuais série 1100 da CPTM)
da EFSJ (Estrada de Ferro Santos a Jundiaí), a fim de amenizar os
problemas.
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ER1467 - Nota-se diversas pinturas ao longo da vida desses trens |
O Superintendente da RFFSA em São Paulo relutava com a idéia, pois os
trens da série 101 adquiridos em 1957 pela EFSJ eram o ápice de
conforto, eficiência e glamour: foram os primeiros trens de aço inox do
país. Fabricados pela Budd americana, adquiridos graças ao superávit do
transporte de cargas, que antes do óleoduto na serra, era forte na EFSJ.
O Superintendente da Central do Brasil, no Rio de Janeiro, ligou
avisando que mandaria a locomotiva para reboque dos Budd's. O presidente
Jânio Quadros, naquela data, acabara de renunciar ao poder. Ao saber
dessa notícia, o Superintendente paulista imediatamente ligou para o Rio
de Janeiro, dizendo as seguintes palavras: ''Suspende a locomotiva de
reboque, que meus trens não irão mais''.
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Segunda fase dos trens série 400 do Rio: Alteração nos faróis |
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Tue Chanceller 'Barrinha' - Serra do Mar, Rio de Janeiro (Foto de J. Emílio Buzzelin, 1995) |
Após muito tempo de uso, já em estado precário, a então CBTU enviou os
primeiros trens série 400 para reforma. As alterações mais visíveis foi a
substituição dos faróis, que antes ficavam no alto, passando para a
parte baixa da máscara e substituição de equipamentos. Chegava então, a
fase 'Chanceller'. Curiosamente, em São Paulo, não tivemos essa segunda
fase de máscara. Nossos trens, após a fase 'Sukita', passaram
diretamente para a máscara que possuem hoje.
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Chanceller com destino a Estudantes: trens paulistas de grande sucesso |
Em décadas passadas, caros leitores, era bastante comum as pessoas
apelidarem os trens, por suas características. Por exemplo, a fase
'Sukita', se deu por conta da identificação visual predominante na cor
laranja. A fase Chanceller, com suas cores em branco e três tons de
azul, era similar à embalagem de uma famosa marca de cigarros da época.
Depois de sua primeira reforma em São Paulo (que já seria a terceira no
Rio de Janeiro), os trens ganharam as cores da nova empresa CPTM (isso
em meados da década de 1990), com as cores azul, vermelho e branco. Isso
lhe rendeu o apelido de Hollywood (que por ventura, era outra famosa
marca de cigarros da época). Um ponto importante a frisar na era
Hollywood foi a alteração dos freios, dando maior confiabilidade.
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Série 4400 na zona leste de SP: Composições com 9 carros |
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ER 4400 'Hollywood': Anos muito difíceis após reforma |
Chegada essa reforma dos já série 4400 de São Paulo, os anos seguintes
foram de extrema dificuldade para esses trens. Por vezes, foi visto com
portas abertas, pingentes e envolvido em atropelamentos. As atuais
linhas 11 e 12 da CPTM (linhas tronco e variante, respectivamente) eram
consideradas as piores linhas do sistema, as mais violentas e perigosas.
As viagens da época não ofereciam qualquer conforto: testemunhas da
época contam sobre os trens circularem com poucas luzes acesas no salão,
as já citadas portas abertas, motores isolados (forçando o trem a
circular em velocidade reduzida, aumentando as viagens que já eram muito
longas). Os assentos, longitudinais, chegaram ao ponto de ser ripas de
madeira. Somente em 2005, com a sua terceira reforma, acabou-se de uma
vez com a história de viajar com portas abertas. Nessa reforma, mais uma
modificação de identificação visual: agora, o padrão metropolitano
adotado em São Paulo, nas cores cinza, azul e vermelho.
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Trens seguiram para reforma |
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Trens ganharam revisão geral, além de nova pintura (divulgação CPTM) |
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Trem série 4400 deixando a estação Brás |
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Salão de Passageiros |
Entre 2009 e 2010, a CPTM adotou um novo padrão de identificação visual,
deixando para trás o padrão metropolitano. Agora, com as cores vermelho
e cinza (vermelho predominante), a empresa ganhava uma identidade
própria, com uma nova marca, novos conceitos e valores. O primeiro trem
da série 4400 foi pintado completamente de vermelho, ideia que foi
alterada logo em seguida, onde ganhou uma parte em cinza. O segundo trem
já foi pintado no padrão que os demais trens utilizam hoje: basicamente
em cinza, com a máscara em vermelho, com faixas laterais largas, também
na cor vermelha.
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Primeira pintura dos trens não foi aceita, sendo modificada em seguida |
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Padrão atual, com o teto na cor cinza |
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Últimos padrões dos trens série 4400 |
Comenta-se, tanto no Rio de Janeiro quanto em São Paulo, sobre o fim da
série 4400. Após mais de 45 anos de serviços prestados, a tecnologia vem
chegando com força. Tais trens, apesar de serem muito fortes e de fácil
manutenção, estão 'passados para trás', com a chegada dos novos trens,
mais modernos e confortáveis. Uma pena, assim como tudo que precisa ser
atualizado. Um esforço deve ser feito para se preservar ao menos uma
unidade, para se manter a memória do trem. No caso de São Paulo, os
novos trens CAF da série 7000 já dividem espaço com os antigos série
4400. Apenas na extensão da Linha 11-Coral (entre Guaianazes e
Estudantes), esses trens prevalecem, ainda assim, com a passagem de um
ou outro trem do Expresso Leste, em suas viagens diretas. No Rio de
Janeiro, os novos trens chineses da série 3000 estão chegando para dar
fim aos trens de aço carbono. Com isso, pouco a pouco, um trem com
tamanha história vai se perdendo...
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Por incrível que pareça, ainda temos um 400 fase II no Rio de Janeiro |
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Enquanto os restantes ainda se mantém firme e forte, prestando serviços |
No próximo domingo, uma sessão saudosista: a história dos Toshibas série
4800 da CPTM. Trens que deixaram de circular em 2010, deixando mais de
meia década de histórias e saudades. O desembarque em Santos, o
desenvolvimento, as mudanças, fases, a decadência, Salvador-BA e o fim
em São Paulo. Não percam, próximo domingo
1 comentários:
DECADA 90
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