Na quinta-feira (29), uma falha no sistema elétrico da Linha 7-Rubi paralisou trens e terminou com a depredação da estação Francisco Morato. A Polícia Militar chegou a usar bombas e manifestantes foram detidos. Passageiros relataram que chegaram a demorar até 4 horas no percurso e flagraram cenas de vandalismo.
O Ministério Público informou que investiga falhas no serviço e especialistas apontam que há superlotação e necessidade de mais investimento. O secretário dos Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes, anunciou obras de modernização no trecho afetado e afirmou que a inauguração da Linha 4 do Metrô e a consequente integração com os trens trouxe um "tsunami" de passageiros ao sistema.
Evolução da demanda
O número de 117,1 milhões considera a somatória de todos os passageiros transportados ao longo de janeiro e fevereiro deste ano.
Dados
da CPTM relativos ao período entre 2006 e 2011 refletem também aumento
se forem consideradas apenas o total de viagens em dias úteis. O total
de usuários cresceu quase um milhão: passou de 1,4 milhão de pessoas em
2006 para 2,3 milhões em 2011.
Para o engenheiro Sérgio Ejzenberg, especialista em transportes, os dados refletem a superlotação das linhas. "Há sobrecarga de usuários, uma demanda enorme. O sistema [de trens] não está dando conta", diz.
Para o engenheiro Sérgio Ejzenberg, especialista em transportes, os dados refletem a superlotação das linhas. "Há sobrecarga de usuários, uma demanda enorme. O sistema [de trens] não está dando conta", diz.
Para
Ejzenberg, as falhas ocorridas na Linha 7-Rubi nesta quinta não são
pontuais - elas fazem parte de um problema maior, que desde o início do
ano afeta os usuários da CPTM. "Talvez [a empresa] não estivesse
esperando tanta demanda. Houve um erro de planejamento, de engenharia ou
de orçamento", pondera o engenheiro. Uma falha ocorreu nos trens da
CPTM a cada quatro dias nos três primeiros meses de 2012, segundo
levantamento da TV Globo. No total, 22 problemas foram registrados.
Problemas
como a pane no sistema elétrico dos trens da Linha 7-Rubi, que
paralisaram os trens e causaram tumulto, afetam mais gente do que só os
passageiros, afirma Ejzenberg. "O custo social é enorme. Há pessoas que
não chegam no trabalho, professores que deixam de dar aula, estudantes
que faltam", diz.
A
hipótese mais provável para a série de panes, diz Ejzenberg, é que
tenha havido "atração" de público para o sistema de trens da CPTM sem
que tenha ocorrido preparação da rede para receber tantos passageiros.
O
Ministério Público abriu inquérito no início deste ano para investigar
as panes sucessivas ocorridas nos trens da CPTM. Segundo o promotor
Maurício Antônio Lopes, é necessário saber se houve redução no orçamento
aplicado na rede ferroviária. Ele se reuniu com diretores da empresa na
quinta-feira (29) e pediu uma compensação com relação à pane ocorrida
na Linha 9-Rubi.
No limite
O
secretário dos Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes, admite
que "a rede aérea [de trens] está no limite", mas nega que esteja
havendo caos. "A demanda reprimida é muito grande. Pagamos o preço do
nosso sucesso", disse ele, em entrevista coletiva nesta quinta-feira.
A
secretaria relata estar trocando os sistemas de alimentação de energia
das estações da CPTM. Serão construídas novas substações de energia em
todas as linhas, ainda de acordo com a pasta. Com relação ao problema na
Linha 7-Rubi, o secretário considerou que, se as pessoas não tivessem
saído do trem, na quinta, a pane elétrica seria resolvida rapidamente. A
falha começou às 7h e estava restrita ao trecho entre as estações Barra
Funda e Luz, ainda de acordo com Fernandes.
O
secretário avalia que o problema da superlotação da CPTM está vinculado
ao aumento da integração com o Metrô, em especial a Linha 4-Amarela.
"Foi um tsunami. A CPTM está tendo que se desdobrar para lidar com esse
tsunami [de usuários] que aconteceu", disse.
Outros fatores
Para
Jaime Waisman, professor de engenharia de transportes da Universidade
de São Paulo (USP), três fatores levaram ao boom de passageiros na CPTM e
no Metrô: a integração com o Bilhete Único, que permite pagar tarifa
mais barata pelo transporte, o congestionamento nas ruas de São Paulo e o
bom momento econômico.
"Como
isso repercute: há uma queda notável no nível de conforto para os
passageiros. Os trens deixam de estar lotados nas horas-pico e ficam
lotados praticamente o dia todo", diz o professor. Ele ressalta que a
tendência de crescimento é inevitável, mesmo nos próximos anos. "As
pessoas estão dispostas a deixar o carro e ir de trem e Metrô porque é
mais rápido e barato. As vantagens do sistema trabalham contra ele",
afirma.
Apesar
de ser inevitável que mais gente use esse tipo de transporte, Waisman
prevê um crescimento em ritmo mais lento nos próximos anos. "O grande
pulo se deveu ao Bilhete Único. Eu diria que a tendência é de uns 20% de
crescimento ao ano, até 2015", disse.
Na
análise individual das linhas da CPTM, a 9-Esmeralda foi a que mais
cresceu nos últimos anos. O número de passageiros mais do que triplicou,
comparando os dois primeiros meses de 2007 com o mesmo período de 2012.
Há cinco anos, havia apenas 5 milhões de usuários, número que chegou a
20,8 milhões só neste ano. A Linha 9 ficará fechada em trechos até maio, sempre aos domingos, para obras de modernização que devem custar R$ 307 milhões.
O
excesso de passageiros é um dos grandes fatores de desgaste dos trens
da CPTM e do Metrô, diz Waisman. "Mais lotação implica em mais gente
segurando as portas, deixando coisas caírem nos trilhos, provocando
algum acidente, o que prejudica a operação."
Investimento
A
bancada do PT na Assembleia Legislativa protocolou na quinta
representação junto ao Ministério Público Estadual em que pede a
abertura de inquérito para apurar supostas irregularidades na prestação
do serviço da CPTM e as responsabilidades dos gestores públicos nos
acidentes e panes ocorridas. A representação requer, também, que seja
apurada se há falta de investimento.
O
PT diz ter documentos enviados pela CPTM à Assembleia Legislativa que
provam diferença de R$ 700 milhões entre o que a CPTM reivindicou e o
que foi efetivamente aprovado no orçamento da companhia em 2012: de R$
1,75 bilhão para R$ 1,05 bilhão. Para a linha 7, a CPTM teria apontado a
necessidade de R$ 284 milhões e o valor definido pelo governo foi de R$
101 milhões, ou seja corte de R$ 183 milhões, que significa redução de
64% do orçamento no investimentos na linha.
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